O medo
é um dos companheiros da mulher. Medo do desconhecido, medo da perda, medo da
dor, medo do fracasso, medo da desilusão. Medo da chuva, do fogo, do desejo,
medo da paixão.
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Há
medos que são inexplicáveis. Há medos esdrúxulos. E há medos engraçados.
Naquela
noite Ana estava em casa sozinha. Ela simplesmente 'a-do-ra-va' ficar em casa
sozinha! Era o momento em que ela podia aproveitar ao máximo a liberdade poucas
vezes sentida de ter a casa toda só para si. Ah, outra coisa que Ana 'a-do-ra-va'
fazer era ler.
Era, de fato, uma
dessas raríssimas ocasiões. E nessa ocasião Ana viveu uma experiência um tanto desastrosa...
Bem,
nessa noite ela estava em seu quarto, lendo um livro qualquer quando começou a
ouvir um barulhinho familiar.
Sabe
aquele barulhinho que a gente escuta quando mexe em um saco plástico? Esse
barulhinho tem um nome que Ana sempre achou fabuloso: 'farfalhar'.
Ana
estava lendo seu livro quando ouviu certo 'farfalhar'. O barulho parecia
distante. Parou de ler o livro e ficou escutando. Alguns segundos depois e
ouviu outra vez. Agora o som parecia estar mais próximo.
Alguma
coisa avisou ao cérebro de Ana que aquele ruído era algo bem familiar. E algo
muito desagradável também. De repente, seu coração começou a bater de forma
acelerada. Suas mãos começaram a transpirar e todo o seu corpo se preparava
para travar mais uma batalha.
Da última vez começara exatamente da mesma
maneira.
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O
farfalhar estava mais alto e mais intenso. Então, além do ruído e de todas as outras
sensações, Ana começou a sentir aquele cheiro estranho. Era um cheiro de coisa
velha; cheiro de escombros; um cheiro que mistura poeira e umidade. Era o
cheiro dela. Só poderia ser uma delas!
Ana não
temia ladrões, nem assombrações. Nunca teve medo de cachorro. Era capaz de
assistir mais de uma vez o filme ‘O exorcista’. Ana até preferia ficar em casa
sozinha, mas, naquela noite...
Naquele
momento era simplesmente aquele cheiro estranho, o coração faltando pouco sair
pela boca, as mãos transpirando e a convicção de que seu cérebro não poderia
estar enganado. A mensagem era claríssima: Alerta! Fuga!
O ruído
vinha da porta de seu quarto que estava apenas encostada. Mas ela não podia
sair por ali. Só havia uma janela que dava para a rua. As grades da janela eram
uma barreira significativa. Ana não sabia o que fazer. Estava em pânico!
Precisava sair dali. A mensagem era suficientemente clara!
Como
não tinha para onde fugir, Ana jogou longe o livro, ficou de pé sobre a cama,
enrolou-se no edredom e colou o corpo (literalmente) no canto da parede.
Congelou os movimentos. Ficou imóvel. E assim ficou por longos quarenta minutos
até que sua mãe chegou da rua.
A mãe
de Ana entrou em casa normalmente e, ao abrir a porta, encontrou uma linda borboleta
tentando desesperadamente voar para fora.
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Momentos
depois, ao entrar no quarto de sua filha não acreditou que aquilo pudesse ser
possível: Ana estava de pé sobre a cama, imobilizada pelo medo e com os olhos
arregalados. Então a mãe compreendeu tudo: sua filha havia pensado que a
inofensiva e bela borboleta fosse uma asquerosa e ameaçadora barata!
O medo é um recurso da
mente que avisa e protege. Muito natural no ser humano, é algumas vezes exacerbado em algumas mulheres: há o medo de
ladrão, medo de fantasma; medo do abandono, medo da humilhação, medo da perda
de um grande amor, medo da solidão... ou simplesmente medo.
By MariBlue