quarta-feira, 13 de março de 2013

Me apaixonei por uma coruja



Fonte da Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Coruja-buraqueira


Incrivelmente passei a apreciar corujas depois que tive um contato muito intenso e prolongado com uma delas. Era uma dessas corujas buraqueiras muito comuns aqui em Brasília. Era uma tarde de domingo e eu havia feito minha inscrição para um concurso público. Meu foco de atenção para esse concurso era tão mínimo que, além de não me lembrar agora qual era o concurso, na época eu mal sabia  em que lugar faria a prova. Acabei indo para a Universidade de Brasília, por que 'achava' que havia lido em algum lugar e momento que faria prova por lá.
Fui de carona com mais duas pessoas que também fariam prova. Até aí tudo bem. Na UnB acessando a internet descobri que meu local de provas era outro (claro que não me lembro qual), muito distante de onde estava e, óbvio, não havia tempo hábil para me deslocar. Moral da história: acabei ficando por ali para esperar a carona de volta para casa. Estava na Ala Norte da UnB (quem conhece o Minhocão vai se situar). Saí dali e segui em direção ao RU (leia-se Restaurante Universitário). Era uma tarde de pouco calor, a temperatura estava amena. O caminho em diagonal para o RU tem além das estradas de cimento e das escadas, canteiros e áreas verdes, com direito a flores, árvores e palmeiras. Encontrei uma sombra boa próximo a uma escada. Ali me sentei. Poucos minutos depois notei que tinha companhia: uma coruja pousada sobre os galhos de uma árvore que tinha ali perto me chamou a atenção. Fiquei observando-a por alguns segundos e, para minha surpresa, havia outra coruja por ali. Essa estava no chão relativamente próxima a mim. Fiquei imóvel e passei a observar os seus movimentos. Eu havia me sentado no segundo ou terceiro degrau da escada, e procurei me sentar mais à esquerda para não atrapalhar quem por ali passasse. Observei que no cantinho do degrau havia terra vermelha remexida e esterco. Continuava a observar minhas novas amigas. Notei que elas giravam a cabeça inquietas, em giros de até 270º, achei aquilo muito curioso (nunca havia prestado atenção nesses seres tão fascinantes) e o que mais me chamou a atenção: aqueles olhões olhando tudo, tão rápido e tão intensamente. Foi aí que minha amiga no solo se aproximou um pouco mais. Tive medo de que ela fosse me atacar mas permaneci imóvel. Foi então que nossos olhares se encontraram. Quem já teve a oportunidade de reparar nos olhos de uma coruja vai entender o que senti naquele momento! Ela me fitava com aqueles olhos imensos e profundos, eu me sentia capturada, presa; refém daquele olhar. Não conseguia tirar o meu olhar do dela. A partir daí tive uma experiência de autorreflexão inacreditavelmente singular: trechos da minha vida, momentos marcantes, tristezas, dores, alegrias, perdas, amores, fracassos, decisões, problemas, sucessos e outros sentimentos vinham à tona com uma força e uma clareza desconsertantes. Comecei a repensar minha vida, algumas decisões recentes; tomei consciência de alguns medos, percebi erros. Chorei amores e perdas, reencontrei pessoas e revi a pessoa que fui em outros momentos da vida. Eu parecia hipnotizada por aquele olhar! Não posso precisar quanto tempo de relógio esse encontro místico durou (pelo menos 1h de relógio, sem dúvidas), mas sei que o tempo psicológico teve a duração de uma eternidade e até hoje tem reflexos na minha vida. Depois desse contato com as corujas comecei a me interessar por elas. Li que as corujas buraqueiras andam sempre em pares (o macho geralmente é monogâmico), cavam buracos para descansar ou construir ninhos e usam estrume para revestir o ninho (por isso o esterco perto da escada). Além disso, são relativamente tolerantes à presença humana (daí o longo tempo em que nos fitamos). Seus olhos são bem grandes, podendo inclusive ser maiores do que os seus cérebros, e elas possuem visão binocular (enxergam um objeto com os dois olhos, e tem visão tridimensional - altura, largura e profundidade).

Curiosamente, alguns anos depois de ter vivenciado esse episódio, me deparo o seguinte trecho de uma postagem em um blog:

"Na essência, a coruja vê o que os outros não vêem, e pode ter mais percepções a respeito de outras pessoas do que de si mesma. Mas mesmo assim, o poder desse animal pode ser 'utilizado' para que a pessoa desperte a capacidade de olhar para si mesma, em busca de uma visão mais íntegra a respeito de si, ou de aspectos que ainda permanecem obscuros e precisam ser vistos".




Incrível, né?
Agora é mais fácil entender porquê sou apaixonada por elas...


Ah, se vc quiser saber mais sobre as corujas: