sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Inexorável Força do Tempo

Naquela manhã ela acabara de deixar o carro no estacionamento do trabalho. Como sempre apressada (atrasada, pra variar) passava pela portaria e se dirigia às escadas (praticamente a única atividade física que fazia nos últimos tempos). Antes que ela alcançasse os degraus, uma pessoa se colocou à sua frente. Estacou. Era um homem alto, vestia um terno escuro e usava um chapéu sobre a cabeça coberta já por fios de cabelo bastante grisalhos. Ele estava de costas e não viu quando ela parou abruptamente para deixá-lo passar. Com a bolsa na mão direita, uma pasta na esquerda e o olho no relógio ela deu passagem ao homem. Então, ele passou à sua frente, segurou o corrimão com a mão direita e, vagarosamente elevou o pé direito para, muito lentamente, colocá-lo no primeiro degrau.

Ela praticamente colada às suas costas já estendia a mão para o corrimão, com a velha pressa de sempre. Quase esbarrando no homem à sua frente, foi que percebeu que o ritmo que se instalava naquele momento era outro. Então recuou um passo e atentamente observou o que parecia ser a ação de caminhar eternizada a cada passo. O relógio parou de marcar o tempo: não havia segundos, minutos ou  horas. Somente os pés daquele homem idoso, pisando os degraus da escada. Devagar e cautelosamente, ela seguia atrás dele, sem ruído, para não lhe causar algum tipo de pressão. Por mais pressa que tivesse, o tempo eterno daquele instante a fez refletir que chega um momento na vida em que a pressa simplesmente deixa  existir. Foram alguns mínimos segundos que pareceram longos minutos. Apenas um pensamento lhe veio à mente: a cada passo dado, a cada degrau vencido, a cada impressão digital deixada no corrimão; em cada fio de cabelo grisalho escondido embaixo daquele chapéu existe, e continuará existindo, a INEXORÁVEL FORÇA DO TEMPO....