segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Quando a semana começa agitada...

Era manhã de segunda-feira.
Ela acordara com a sensação de que o final de semana nem havia existido.
Uma vaga lembrança do domingo, que lhe exigira bastante, em atividades com familiares e os tradicionais compromissos dominicais. Entretanto, mais que uma simples ressaca do final de semana, houve uma sequência de fatos para que ela continuasse com a sensação de que o final de semana não acontecera e que ela precisava de mais tempo para organizar a vida. Seu quarto era pura desordem. Não encontrava a chave do carro que estaria ali, em algum lugar. Na cozinha a pilha de louças limpas e secas em forma de armadilha que construíra no domingo à noite. Com cuidado começou a retirar as vasilhas plásticas da pirâmide de louça lavada. Concluída a operação sem maiores danos ou prejuízos,  lembrou-se que ainda  iria preparar o café e que também que não encontrara a chave do carro. O relógio continuava a marcar o inexorável ritmo do tempo e ela mal sabia o que iria vestir para ir ao trabalho. Enquanto finalizava o café imaginou a roupa que usaria e a localização das peças no seu guarda-roupas, igualmente em desordem (em consonância com o seu quarto, claro). Bem, além do banho, tinha que encontrar a chave do possante. Banho tomado, roupa em condições de uso, vestiu-se, penteou-se, maquiou-se e descobriu a chave do carro presa no cachecol que usara na noite anterior. Ufa! Menos uma tarefa. Agora, apesar de o relógio estar muito mais adiantado que ela, era só jogar na bolsa o estritamente necessário e sair. Feito isso, foi em direção ao carro lembrando que na véspera os tapetes ficaram secando no varal. Uma corridinha até a área de serviço, deixando a bolsa no banco do carona, retorna com os tapetes e, rapidamente, os devolve para os respectivos lugares. Puxa, conseguira! Hora de sair para o trabalho. Põe a chave na ignição, dá a partida mas o carro não funciona. Ela se recorda que tinha precisado efetuar uma 'chupeta' (existirá um nome científico para a operação em que um veículo com a bateria descarregada necessita da força de uma bateria carregada, por meio da conexão de cabos de força?) na noite anterior após ter deixado o som do carro ligado por algumas horas. Mas o que ela não imaginou foi que seu carro não ganhara força suficiente para 'acordar' na manhã de segunda-feira e levá-la ao trabalho.
Desolada, começou a pensar em QUEM poderia ajudá-la. Além da mãe convalescente, mais ninguém na casa. Foi até a rua. Olhou para o portão do vizinho policial militar. Silêncio. Olhou para a casa do vizinho adolescente que poderia estar saindo para ir à escola. Nada. Nenhum movimento. Havia apenas um veículo na rua, o do vizinho bombeiro militar, que poderia ter chegado do trabalho e estar mergulhado em sono profundo. Não tinha muita escolha, decidiu arriscar. Bateu delicadamente no portão. Silêncio. O vento daquela manhã de inverno batia em seu rosto e bagunçava seus cabelos. Bateu novamente no portão, agora com mais força. Chamou o nome do vizinho um pouco mais alto. Ouviu passos. Ufa, seria alguém? 'Olá, alguém aí?', arriscou. O vizinho: 'Olá, só um instante'. Ele abriu o portão, ela contou sua história triste e o gentil vizinho foi ajudá-la com a 'chupeta'. Resolvido o problema, agradecimentos, sorrisos e algumas justificativas depois, ela sai para o trabalho. Esbaforida, despenteada, apressada e faminta (não havia tomado café). Alguns minutos depois chega ao trabalho. Senta-se, respira e olha o relógio: quarenta minutos de atraso! Depois corre os olhos na escala de plantão daquela semana. Naquela segunda-feira, 27, ela poderia ter dormido até mais tarde, saboreado o seu café da manhã, resolvido calmamente o probleminha com o carro e até ter lido o jornal. Pela escala de plantão do trabalho ela deveria chegar apenas às 14h. Suspirou. A sensação de que o final de semana não tinha existido voltou, mais forte. Um desejo profundo de que fosse sexta-feira invadiu seu peito. Terminou de tomar o chá que buscara na copa, ligou o computador e, nesse momento, a semana começou.